44. Grata pela preocupação...44
Como você se sente?, ela pergunta.
Como dois panos de prato esquecidos no varal da varanda depois da ventania – pendurados, e muito mal, por um velho prendedor de madeira, só com uma ponta presa, as outras três jogadas de qualquer jeito, abandonadas, uma formiguinha cristã esgotada no tecido gasto, desbotado, querendo o chão
Como duas baleias mortas no segundo antes da explosão
Como três macacos preocupados com o espaço sideral
Como quatro vetores que não se encontrarão jamais – uma separação mais para o bem do que para o mau
Como cinco soldados que vão ao supermercado, numa guerra estupidamente banal
Como seis guepardos com preguiça
Como a última linguiça da máquina, aquela mais magra, aquela mais fraca
Como a vítima póstuma de uma tragédia falsa
Como as traças sobreviventes que cruzam, descalças, o umbigo do abrigo de lã
Como se amanhã fosse domingo
Mas não é
Como se tudo fizesse sentido, mas nada sobrasse de fé
(Como uma crente sem juízo
final)
Quer um café?, ela sugere.